
Já vimos, em textos anteriores, que a TCC - terapia cognitivo-comportamental acredita que nossos sentimentos e comportamentos são mediados pela cognição. Entretanto, nem sempre desenvolvemos pensamentos funcionais, adequados à realidade. Não é toda hora que temos consciência de que podemos estar alimentando, no nosso dia-a-dia, pensamentos que reforçam sentimentos e sensações que queremos refutar, nos afastando do estado de bem-estar tão desejado por nós.
É como se a pessoa estivesse usando óculos cujas lentes estejam embaçadas ou com um grau diferente do ideal, dificultando a ela enxergar a realidade, o que lhe levaria a agir baseada em informações distorcidas, acreditando que o mundo não é exatamente como o é – tem dificuldade de entender que pode ser de outra forma e portanto, vê-se limitada nas decisões de mudança.
Nestes casos, chamamos de distorções cognitivas aos pensamentos exagerados e irracionais, identificados junto ao terapeuta, que podem originar alguns distúrbios psicológicos ou sofrimento.
Acredita-se que a eliminação dessas distorções cognitivas melhora o sentimento de bem-estar e desencoraja a ocorrência de doenças como depressão e ansiedade crônica. O processo de aquisição pelo paciente de técnicas para refutar as distorções cognitivas diagnosticadas é chamado de "reestruturação cognitiva".
Abaixo, de maneira didática, listei algumas destas distorções.
POLARIZAÇÃO – Também conhecido como Pensamento Dicotômico ou pensamento Ou-tudo-ou-nada. Refere-se à concepção, argumentação e julgamentos em termos absolutos, como "sempre", "todos", "nunca", e "não há alternativa". A pessoa não consegue relativizar as coisas, sentimentos, situações. Aas experiências são interpretadas como totalmente boas ou totalmente más. Tendem a interpretar e classificar as experiências em duas categorias opostas: bom / mau; confiável / não confiável; etc.
GENERALIZAÇÃO - Extrapolamento de experiências limitadas e provas para generalizações excessivas, ocorrendo no processo cognitivo um distanciamento da realidade. É muito comum que incidentes isolados sejam tomados como padrões gerais.
PENSAMENTO MÁGICO - Expectativa de resultados determinados com base no desempenho de atos não relacionados ou pronunciamentos. Estabelece relação de causa e efeito sem comprovação na realidade.
FILTRO MENTAL - Incapacidade de ver tanto os aspectos positivos quanto os negativos de uma experiência.
DESQUALIFICAÇÃO DO POSITIVO - Desconsideração de experiências positivas por arbitrárias razões.
CONCLUSÕES PRECIPITADAS - Chegar a conclusões (normalmente negativas) a partir de pouca (ou nenhuma) evidência. Dois subtipos específicos e comuns são também identificados:
Leitura mental / Adivinhação – Acredita ser capaz de ter acesso às intenções ou pensamentos de outras pessoas, ou seja, sabe o que os outros estão pensando.
Antecipação / Leitura do futuro - Expectativas inflexíveis de como as coisas vão acontecer antes que elas aconteçam.
MAXIMIZAÇÃO E MINIMIZAÇÃO - Ampliação ou minimização de uma memória, ou qualquer outro fato, de forma que já não corresponde à realidade objetiva, ou seja, aumentar ou diminuir a importância de algo de maneira irreal.
CATASTROFIZAÇÃO - incapacidade de prever outra coisa senão o pior resultado imaginável, porém improvável, ou considerando uma situação como insuportável ou impossível quando é apenas incômoda.
RACIOCÍNIO EMOCIONAL – Vivência da realidade como um reflexo de emoções, por exemplo, "Eu sinto, portanto, deve ser verdade."
IMPERATIVO TEM - Padrões de pensamento que implicam a forma como comportamentos e situações tem que ser, ao invés de considerar a situação como as coisas são, gerando insatisfação, preconceitos e distorções de julgamento. Ou também ter regras rígidas nas quais a pessoa acredita que "sempre se aplicam" não importando as circunstâncias.
PERSONALIZAÇÃO - Atribuição de responsabilidade pessoal (ou papel causal ou culpa) para os eventos sobre os quais uma pessoa não tem controle. Os acontecimentos são arbitrariamente interpretados em referência a si mesmo, ou seja é estabelecida uma conexão sem base na realidade.
INFERÊNCIA ARBITRÁRIA: Processo de extrair uma conclusão específica na ausência de evidencias para apoia-la.
ABSTRAÇÃO SELETIVA: Foco em certos detalhes extraídos do contexto; detalhes são salientados, em detrimento de informações importantes que são omitidas.
ROTULAMENTO: os comportamentos são atribuídos a traços de personalidade indesejáveis.
A identificação dessas distorções, bem como a reestruturação cognitiva é um dos objetivos clínicos da terapia cognitivo-comportamental, possibilitando quebras de paradigmas e o encontro de soluções novas e criativas para a vida.
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Texto elaborado por Márcia Verônica de Paiva Machado, Psicóloga formada pela PUC-Rio (CRP 05/35863).
Idealizadora da TREC RJ.
Terapeuta Certificada pelo Instituto Albert Ellis em Terapia Racional-Emotiva Comportamental.
Atende em consultório particular, com sessões baseadas em Terapia Racional-Emotiva Comportamental.
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